Enquanto esperamos que as
crisálidas se transformassem em borboletas questionámo-nos muitas vezes se se
conseguiriam alimentar no borboletário. Cultivamos nesse espaço as suas flores
preferidas, as que possuem o pólen de que mais gostam, mas... as borboletas
podem ser muito caprichosas!
Tivemos de esperar para
ver... e agora sim, sabemos a resposta para a pergunta que tanto nos inquietou
o espírito.
Observando com atenção algumas das crisálidas, podemos
concluir que novos desenvolvimentos se avizinham. A membrana mais translúcida
permite ver o esboço das asas das futuras borboletas...
Todo o nosso esforço e empenho foram recompensados quando
chegou o dia de colocarmos as lagartas no seu novo lar. Cresceram muito e algumas
até já estão na fase de crisálida.
Enquanto íamos construindo um lar adequado,
procuramos recolher o máximo de lagartas e para isso todos ajudaram. Deu-se
início a uma verdadeira caça à lagarta onde famílias inteiras dedicaram o seu
tempo livre a vasculhar arbustos nos jardins, nos terrenos de vizinhos e
familiares, em descampados e florestas nos arredores. Esta iniciativa foi muito
proveitosa uma vez que foram apanhadas trinta e duas pequenas lagartas para
compor o nosso borboletário.
Depois de aconchegarmos melhor o nosso
"sonho", demos início ao projeto, concretamente dito.
Começamos
por eleger o espaço adequado, privilegiando um local soalheiro, visível a toda
a comunidade educativa. Depois de analisadas as diversas hipóteses, escolhemos
o canteiro interior da sala um, do pavilhão vermelho.
Tiramos
medidas, orçamentamos o material necessário e contamos com a preciosa
colaboração do Sr. Oliveira para colocar vidros e redes.
Como ponto de partida para a
construção do nosso borboletário, estabelecemos, à partida, uma regra sagrada:
nunca, em
circunstância alguma, qualquer um dos animais intervenientes poderia ser
magoado ou sujeito a condições desadequadas ao seu desenvolvimento, com
"qualidade de vida".
No
âmbito do projeto “5.º G - Interrogar a Ciência", decidimos construir um
borboletário. Esta decisão foi tomada tendo como base o texto "A origem da
espécie", da página 164 do livro "Darwin aos Tiros e outras histórias
de ciência".
A origem da espécie
A ciência é um
imenso campo de surpresas. Aconteceu em 2009 uma delas no jardim do Museu de
História Natural, na cidade de Londres. Um petiz de cinco anos, filho do
entomologista Max Barclay que trabalhava no museu como curador, apanhou um
bichinho vermelho e preto do chão e mostrou-o ao pai:
Papá, o que é isto?
O pai teve de admitir que não sabia,
apesar de ter passado a vida a recolher insetos por todo o mundo, em sítios
remotos do globo como a Tailândia e a Bolívia. O referido museu alberga uma
coleção de 28 milhões de espécies (passaram para o Centro Darwin - Fase 2, um
moderno edifício inaugurado no Ano Darwin), mas não havia lá nenhum igual. Não
era uma espécie vulgar de Lineu... Depois de uma verdadeira «caça ao inseto»
nos museus de todo o mundo, encontrou-se uma espécie parecida no Museu Nacional
de Praga. Dava pelo nome de Arocatus
roeselli e tinha sido recolhida em Nice, no Sul de França. Depois de vários
estudos - analisou-se o ADN e tudo -, ficou sem se saber se é a mesma espécie
ou se é uma espécie nova muito semelhante. A questão é que o inseto conhecido
não devia existir à latitude de Londres e, além disso, habitava um outro tipo
de árvores. Quando se foi examinar melhor o jardim do museu, constatou-se que
esteva todo povoado pela nova espécie (pode mesmo tratar-se de uma nova
espécie, pois há quem conjeture que só dez por cento das espécies de insetos
são conhecidos). Não era um inseto isolado, mas uma multidão deles; felizmente,
inofensivos para os humanos.
Qual é a origem da espécie? Não se
sabe ao certo. Segundo Barclay (Time, 28 de Julho de 2009), a migração e a
adaptação Arocatus pode dever-se ao
aquecimento global ou à circulação acrescida de pessoas dentro da União
Europeia. Qualquer que seja a origem, um mistério como este veio mesmo a
calhar, na altura em que passavam 150 anos sobre a primeira comunicação de
Darwin a respeito da origem das espécies, que ocorreu um ano antes de o seu
livro mais famoso ter vindo a lume.
Esta curiosa história científica
ensina-nos o valor da biodiversidade, a relevância do melhor conhecimento e
preservação de todas as espécies e a importância dos museus de história
natural.
adaptado de "Darwin aos
Tiros e outras histórias de ciência", página 164
Este
texto suscitou interesse e curiosidade relativamente ao estudo das diversas
espécies existentes e vontade de encetar uma atividade semelhante. No entanto,
dada a baixíssima probabilidade de encontrarmos uma nova espécie, animal ou
vegetal, num dos diversos jardins da escola, fizemos algumas alterações e optamos
por estudar o desenvolvimento de uma espécie comum na região e que seja
apelativa para todos os intervenientes neste projeto.
Uma
vez que a questão das metamorfoses de alguns animais, conteúdo já lecionado na
disciplina de Ciências da Natureza, levantou algumas dúvidas e grandes
"mistérios", elegemos então uma das mais bonitas borboletas de
Portugal para estrela do nosso projeto. E assim nasceu a ideia do borboletário
com a espécie Papilio machaon.